“O monomito (às vezes chamado de ‘Jornada do Herói’) é um conceito de jornada cíclica presente em mito, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell”. Ele é dividido em três seções: Partida – o herói almeja sua jornada; Iniciação – as aventuras do herói ao longo do seu caminho; e Retorno – o herói volta para casa.
O Paradigma Disney está constituído por duas esferas de elementos: as classes de actantes e as funções narrativas. Os personagens têm objetivos claramente apresentados e suas ações são motivadas por compromissos de troca. Seguem uma série de etapas. O protagonista é sempre bom; o antagonista, sempre mau. Este é motivado por cobiça e orgulho e só reconhece maneiras destrutivas para acabar com aquele.
Déxter é um especialista em amostras de sangue e trabalha para o Departamento de Polícia de Miami. Na infância, é adotado por um policial que logo percebe sua tendência homicida. Para tentar canalizar sua estranha vontade de dissecar seres vivos, o policial tenta guiá-lo para algo que supõe ser mais construtivo. No que se refere ao protagonista sentir-se deslocado no começo da história, há uma ligação com o que é apresentado pelo Paradigma Disney. Seu pai pode ser o elemento que o fez tomar o rumo da mudança. Déxter torna-se um assassino serial, que mata aqueles que a polícia não consegue prender. Diferente do monomito, o protagonista da série é um homem bom, charmoso, educado, carismático e respeitado, mas só superficialmente. Seu trabalho, na verdade, serve para ocultar sua verdadeira ocupação: a de serial killer. A identidade dupla tem de ser escondida de todos. Isso faz com que ele viva um embate diário entre o bem e o mal. O que sai totalmente do conceito de monomito, no qual o “herói” tem a personalidade determinada e suas ações são quase sempre previsíveis. Se bem que, não se sabe se Déxter pode ser considerado herói. Ele é um personagem complexo cujo código moral e ações são justificáveis para alguns e totalmente imperdoáveis para outros. Sua identidade é confusa, não sendo nem mocinho, nem vilão, apenas protagonista.
Na série Life on Mars, não há vilão. Pelo menos não um que tenta acabar com o mocinho. O agente Sam Tyler está perseguindo um assassino, quando é atingido por um carro e fica inconsciente. Ao acordar, descobre que está no ano 1973 e que agora é um novo agente recentemente transferido para a mesma delegacia em que trabalhava. Sam encontra muita dificuldade para aceitar a nova situação. Ao investigar um assassinato, ele descobre que pode haver uma conexão com os eventos do “presente-futuro”. O protagonista já se vê em uma situação difícil logo no começo da história, encara um “desafio” sem que tenha tomado consentimento disso e não há nada que siga os padrões de monomito. Suas atitudes não podem ser previstas, ele é vítima de uma ação própria sem que qualquer “vilão” tenha premeditado uma algo conta ele. Além de não estar claro se realmente está vivendo nos anos 1973 ou se está em coma e todo o enredo é fruto de sua imaginação. A série focaliza nas diferenças culturais que separam o policial atual do policial dos anos 70, principalmente no que se refere às divergências de abordagem dos suspeitos: enquanto no século XXI, o policial deve preocupar-se com as conseqüências legais de suas ações, seus colegas do passado tinham menos restrições e mais liberdade para agir com os criminosos.