
"Quão infortunado é o homem que faz do ouro seu deus. Quão míope é o olho que vê somente o reino material. Quão miseravelmente cai aquele que busca primeiramente o reino de riquezas materiais”. Esta afirmação de Irvin Himmel pode ser relacionada com um acontecimento recente. Em dezembro, a Folha de São Paulo publicou uma reportagem da jornalista Elvira Lobato descrevendo as milionárias atividades do bispo Edir Macedo. Surgiram então, ações judiciais movidas por integrantes da Igreja Universal que se diziam ofendidos pela reportagem. E, embora todas as ações sejam individuais, os textos e argumentos apresentados são idênticos, situações que se repetiam numa lengalenga, deixando claro uma espécie de ação ensaiada.
A liberdade religiosa é um direito oferecido pela constituição, mas a razão aparente de exercê-lo torna os que comandam essa facção religiosa uns hipócritas. Eles mal disfarçam o silogismo comercial que move tais ações. Tentam impedir que a sociedade saiba mais sobre os fatos. O líder dessa igreja não passa de um empresário bem sucedido que quer ganhar dinheiro rápido e fácil. Não é um “pastor evangélico caluniado pelos inimigos da sua igreja”, como se apresenta. Essas ações são movidas mais pelo interesse financeiro de seu líder do que pela motivação dos fiéis que se dizem ofendidos.
É evidente que há um comando de não centralizar as ações judiciais, pois seus autores estão espalhados por quase 20 estados da Federação e alvitraram esses feitos em municípios distantes, numa demonstração que a ação tem por objetivo dificultar a defesa da parte contrária.
Mover as ações em grande número é uma estratégia que patenteia o verdadeiro escopo de causar transtornos aos jornais e jornalistas, que se vêem obrigados a comparecerem em dezenas de cidades e a prolificar, conseqüentemente, os custos de sua defesa. Com isso, os autores das ações e seus mentores pretendem induzir jornais e jornalistas a silenciarem informações a respeito da Universal. Como os processos são abertos em cidades distantes umas das outras e, muitas vezes, com audiência no mesmo dia, o trabalho de defesa torna-se muito difícil e a presença do jornalista intimado, impossível. É uma iniciativa tosca e grosseira que afronta o Poder Judiciário, já que pretende usá-lo com interesses não declarados. A IURD, ou, pelo menos sua liderança, é movida pelo interesse econômico devido às praticas e posturas adotadas.
Tudo que a igreja faz tem que ser para a glória de Deus. Está em 1 Coríntios 10:31. Mas seus líderes parecem não saber disso. Essa igreja é envolvida em atividades de toda natureza. Participa do mercado comercial. Abre e mantêm empresas em diversos setores. Emprega seus recursos para obter e manter poder político. A lista de empreendimentos em nome de religião se tornou quase infinita.
Quando se trata do uso dos recursos da igreja, o padrão bíblico é simples. As primeiras referências ao dinheiro nas igrejas do Novo Testamento se encontram em contextos de necessidade material. Mas o trabalho principal da igreja é espiritual. Deus mandou que as igrejas fossem ativas na esfera espiritual – pregando a palavra aos perdidos, edificando os santos e se reunindo para adorar o Criador e Redentor (1 Tessalonicenses 1:8; 1 Timóteo 3:15; 1 Coríntios 11:33-34; 5:4). Mas que moral ela tem de pregar a palavra para denunciar o pecado se nas atitudes da liderança contém todo o lixo do inferno? Que moral ela tem de mover ações – ilógicas – usando o pretexto de “possíveis danos causados pela mídia” se ela nem respeita aqueles que diz serem seus irmãos? O que adianta expulsar demônios nos cultos e o diabo reinar dentro de sua emissora? Os líderes estão brincando com coisa séria. Como é que uma igreja investe milhões numa emissora em nome da conquista de audiência? Todo tipo de imoralidade bancada com dinheiro de oferta e dízimo? Investir mais de 300 milhões por ano pra ganhar audiência com tudo que é indecência, pornografia, homosexualismo, prostituição, com dinheiro de igreja? Ela está perdendo o foco, aliás ele já foi perdido a muito tempo.
É incontestável que o líder dessa igreja age por vontade humana, e não divina. Um recado ao líder desse império: Lúcifer, satanás, caiu por três motivos (esequiel 28:11-17): primeiro, soberba; segundo, na multiplicação do seu comércio; e terceiro, tinha poder. A mesma história está se repetindo, a igreja está perdendo o foco daquilo que Deus a levantou que foi para pregar o evangelho. Ela não está ai pra ter guerra e disputa de interesses, a igreja está aí pra combater o diabo, o pecado, denunciar a podridão da sociedade. É triste, é uma falta de ética, travar esse tipo de conflito só por que tem poder econômico. É lamentável. Não estou falando contra a igreja, existem pessoas de Deus lá, mas sim contra a liderança desta. Na bíblia diz: "É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito; não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo" (1 Timóteo 3:1-7). A comunidade evangélica não pode ser jogada numa guerra no qual os interesses não estão ligados com o propósito de Deus pra ela.
É triste ver o dinheiro da igreja, dos dízimos e ofertas a serviço do diabo e do pecado numa guerra ilógica só porque alguém tem certo monopólio financeiro. É uma imundice!Não há vantagem para esses evangélicos moverem tais ações. Elas estão disfarçadas pelo cinismo de tentar buscar reparação de seus direitos. O direito deve continuar a ser inalienável a uma pessoa, instituição ou empresa por possíveis danos causados pela mídia. Mas são necessários mecanismos para impedir a eventual atitude de má-fé contra jornalistas e empresas de comunicação.