quinta-feira, 22 de maio de 2008

Golpe do Baú


A prima foi à loja e pediu um sapato:

- Coisa moderna, daqueles de perder de vista.

A moça, com ar técnico, sugeriu:

- Para a senhorita, se me permite, seria melhor um mais modesto, tipo Sabrina, ou Anabela.

A baixinha, que era interesseira e exagerada, repeliu o conselho e disse com tom altivo:

- Não serve! Quero um de 7 centímetros para lá, tem que ser grande, espalhafatoso. Um negócio de arrasar corações na primeira passada.

A moça arranjou para Mirela uma plataforma de 12 centímetros. Ficou tão desproporcional que, se ela tivesse pendurado uma melancia no pescoço, chamaria menos atenção. O vestido longo para escondê-lo deixou-a parecendo uma salsicha desengonçada.

E assim, alta, moderna e desajeitada, transitou sua belezura para Campos Altos onde devia cativar os interesses de um moço muito bem aprumado. Apanhado de rosto e de dinheiro. Só em moeda corrente do país sua formosura passava na frente dos cinco milhões. Estava tudo ajeitadinho por uma prima dela, Alzira, que participava nos entendimentos dos dez por cento. E no sacudido do trem, que levava Mirela para sua mina de Campos Altos, ela pôs-se a olhar mais uma vez e exclamou elogios de louvor às belezuras:

- Nossa! Não vai ter para ninguém. Alta assim, não vou nem caber em Campos Altos, vão pedir outra cidade de reforço!

Chegou, ficou um par de dias na casa do primo. Sempre tomando cuidado para ninguém perceber o disfarce. Só tirou o trambolho na hora de dormir. Valsou com ele na sala de visitas, pisou luar na pracinha em sua companhia. Flertou, riu, atirou charme. E voltou no trem das sete. De dentes acesos matutava:

- Quinhentos mil para prima Alzira! Esperta!
Foi quando recebeu o telegrama da bendita:
“Prima, o casamento desceu pelo barranco. O primo apreciou sua educação, seu pé de valsa, mas achou alta demais. O primo é doido por uma baixinha”.

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